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Pessoas de plástico


Há meses eu estava perdido em uma selva, um lugar hostil onde tudo tentava me matar. Toda manha eu acordava assustado antes que um inseto venenoso tentasse me ferroar a procura de sangue. As semanas se passaram e com o tempo eu aprendi que a essência de uma arvore curava o veneno dos insetos. Eu comecei a caçar e construí uma bela casa de pau-a-pique que ficava ao lado de um rio onde eu nadava toda tarde, a minha vida era boa, mesmo que eu estivesse perdido em uma floresta. Aprendi a rezar e agradecer - obrigado pela a lua e as estrelas que são ótimas companhias, obrigado a boa comida e que amanhã seja melhor que hoje, amém.

Um dia, porém, algo aconteceu: Vários peixes de plástico apareceram, eles tinham uma bela escrita branca envolta de uma mancha vermelha. Dentro dos peixes havia uma carta, na qual um urso polar falante me convidava para ser feliz. E também me mandara uma foto de pessoas sorrindo em um lugar lindo. Me desculpe lua, me desculpe estrelas, Mas não é educado recusar um convite, não é mesmo?

Caminhei em direção norte e à medida que subia eu encontrava mais e mais peixes de plástico, esse gentil urso via dar uma festa e esta covidando todos. As arvores foram desaparecendo, e eu achei isso bem confortável, o sol era lindo e também não havia nenhuma cobra no topo das arvores, pois não havia arvores.

Cheguei então à cidade, na qual era cercada e protegida - que ótimo nenhum tigre vai tentar morder minha jugular- pensei. No portão da cidade, que era vermelho com uma maçaneta de ouro, havia uma escrita: ”abra a felicidade”. Pra que tapete de boas vinda se eles pisam e limpam os pés, uma maçaneta dourada é muito mais convidativa. Abri o portão, entrei evi vários rostos. o convidado chegou...

O portão se fechou atrás de mim, vi que a cidade era maravi... Essa não é a cidade que me convidaram. Era uma cidade feia, exceto pela torre, idêntica à do cartão postal. Um velho me perguntou se eu não tinha medo de viver lá fora, onde a natureza conspirava contra minha vida, e então ele me explicou as maravilhas da cidade - com esforço e suor você atinge o melhor -disse ele apontando para a bela torre reluzente - um dia vou comprar uma casa naquele prédio.

Logo comecei a trabalhar para ganhar dinheiro e crescer na vida. Por mais que eu trabalhasse na fabrica de bebidas ao pé da torre, eu morava do outro lado, e tinha que andar de casa para o trabalho todos os dias. Na fabrica, eu separava as tampinhas das bebidas, fazia isso todos os dias, e de novo: acordei, andei , trabalhei, deitei, acordei, andei , trabalhei, deitei, COMPREI ALGO NOVO, acordei, andei , trabalhei, deitei...

Acordei;

Andei;

Não trabalhei, fui à banca de jornal.

A caminho da banca vi que todos acordavam, levantavam, trabalhavam e deitavam, todos faziam a mesma coisa todos os dias. De repente vi um jornal com a manchete: “cachinho dourados está doente... um inseto vindo da natureza a picou... Urso polar em prantos... Entre a vida e a morte”. -Ó, eu conheço esse inseto, eu sei como curar essa doença! –. Então, eu fui até a torre do urso burguês, mas, não me deixaram subir a escada, pois meus pés sujariam o mármore branco - eu tenho a cura- e com a cara fechada me autorizaram passar, subi até o ultimo andar, chegando lá o urso tomou o antídoto das minhas mãos e com uma colher deu-o para cachinhos dourados, e ela ficou bem, o antídoto funcionou.

Ela viveu, e eu me tornei tão rico quanto o burguês. -Agora eu entendi esse urso, não era tão mau assim, só queria que as pessoas trabalhassem um pouco para depois virem morar na torre do sucesso- e agora eu morava na cobertura. Pedi um champanhe e descobri onde estavam as tampinhas que eu separava. Eu não precisava trabalhar, comia e comprava algo novo todo dia, minhas moedas eram quase infinitas, resolvi fazer uma coleção de tampinhas.

Eu olhei para as pessoas lá em baixo, na fabrica: acordavam, levantavam, trabalhavam e deitavam... Resolvi descer até lá e convidar o velho que eu vi no primeiro dia, o que havia me dito da torre do sucesso. Ao descer as escadas em espiral vi que alem dos últimos andares, o resto da torre era oco, impossível alguém morar ali.

Quando cheguei na fabrica descobri que meu amigo havia morrido devido a avançada idade, e um novo ocupava o seu lugar. - como ele foi morrer sem alcançar o sucesso, e mesmo se alcançasse, onde ia morar? Quem iria fabricar o as bebidas que são servidas na torre?

Eu voltei à torre e fui falar com o urso. Mas cachinho dourados havia morrido também, e o urso nem si quer estava chorando. Ele me disse que por mais que lutássemos contra a natureza, um dia ela iria vir, iríamos ficar velhos e caducos, que um minúsculo inseto podia levar as vida embora, e como ela era frágil. Mostrou-me uma peruca largada num canto e me contou que a tempo a menina estava doente- esse dia iria chegar, chegou, não é-. Ele tirou a gravata e um gorro vermelho e me elegeu novo presidente do seu império -pra quem vou deixar tudo eu construí? Quem vai fazer minha memória ser imortal?

Eu não quis aceitar, - vou voltar para minha casa na floresta- , mas a floresta não existia mais, tinha virado um deserto, eu não tinha para onde correr. Olhei para lua e ela não estava lá, a fumaça havia a encoberto. Chamei por Deus e ele se fez de surdo, talvez seja o barulho da cidade. O urso então me disse que as pessoas são como as garrafas, e a felicidade é o liquido, e por mais que fabricassem esse liquido e o VENDESSEM com propagandas amistosas, todos tinham um furo por onde ele escorria, e ia embora rápido. As pessoas são de plástico, assim como os peixes , usando rótulos para encobrir seu interior oco. Olhei pro meu peito e vi que tinha me tornado uma garrafa, e assim como as outras garrafas, eu tinha um rótulo, quando o rasguei, me vi vazio.

Nessa hora os pés do urso flutuavam e uma corda estava presa ao teto. Eu peguei uma única moeda desse tesouro e a guardei no meu bolso, - vou largar tudo e voltar para o deserto ate que a natureza decida a hora do meu voo.

Eu nem sei quem eu sou, eu julgo ,vejo vídeos no meu sofá, nem si quer penso para roubar a opinião dos outro e chamar de minha, - gostaria de um preconceito bem tostado com molho de hipocrisia e um leve toque de discórdia-. Sou hipócrita e minha mente está cheia de paradigmas que são, sem duvida alguma, mais venenosos que os insetos.

Venderam-me a felicidade, mas ninguém me disse que as prestações eram pagas com a sanidade.


Por Trás do Blog
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